terça-feira, 10 de novembro de 2009

Governo quer discutir casamento gay na AR antes do Natal

Governo quer discutir casamento gay na AR antes do Natal

Publicado em 10 de Novembro de 2009
Francisco Assis avança a intenção do governo: discutir casamento gay na AR antes do Natal
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A guerra vai rebentar por causa da da lei que autoriza o casamento entre pessoas do mesmo sexo em Portugal. Os socialistas já definiram uma estratégia para retirar margem de manobra a partidos políticos e movimentos da sociedade civil que pretendam mobilizar-se contra a lei - que a esquerda pretende aprovar no Parlamento - e definiram que o projecto legislativo deve ser discutido na Assembleia da República até ao Natal. Ou seja, antes da visita do Papa Bento XVI ao país, prevista para Maio.

O calendário diminui a possibilidade de recolha das 75 mil assinaturas para convocar um referendo sobre a matéria, como defendem alguns católicos, membros do CDS-PP, líderes movimentos de cidadania e até da Igreja Católica.

Até Dezembro, o governo vai abrir "provavelmente" a discussão no Parlamento, disse ao i o líder da bancada socialista, Francisco Assis. E vai avançar para a votação antes do fim do ano.

Mesmo que os opositores ao casamento entre pessoas do mesmo sexo consigam chegar às 75 mil assinaturas para propor o referendo ao Parlamento, o PS poderá ainda assim aprovar a lei, já que o referendo necessita de legitimidade no Parlamento e, aí, os partidos de esquerda são maioritários: a maioria simples chega para afastar essa possibilidade, apesar de o PS ponderar "analisar essa situação na altura", diz Francisco Assis.

"Referendar é positivo para esclarecer a opinião pública e lançar o debate", disse ao i Manuel Pelino Domingues, bispo de Santarém, à margem da assembleia plenária da Conferência Episcopal Portuguesa. Outros bispos contactados pelo i recusaram comentar a proposta de lei por estar acordado um "silêncio democrático" até ao final do encontro que decorre em Fátima até quinta-feira.

Mais directa é a posição do Vaticano: "O Estado não pode garantir bases legais a estas uniões sem falhar no seu dever de promover e defender o casamento enquanto instituição essencial para o bem comum", escreveu em 2003 o actual Papa, então cardeal, num documento da Congregação para a Doutrina da Fé.

Do lado do CDS-PP, o único partido contra o casamento entre homossexuais, ainda não há uma estratégia oficial para combater a alteração à lei. Mas, nas palavras do deputado Filipe Lobo de Ávila, a posição oficial do CDS será conhecida "muito em breve". E avisa: "Cada dia que passa em que o PS não apresenta a medida, mais força ganha a opção de referendo." No PSD impera o silêncio, apesar de uma fonte do partido ter dito ao i que dará liberdade de voto aos seus deputados - tal como o CDS deverá fazer. "O habitual é não haver disciplina de voto", adiantou ao i o deputado Lobo de Ávila.

A votação da proposta socialista que prevê "remover as barreiras jurídicas à realização do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo", como consta do programa de governo, deve estar sujeita à disciplina de voto.

Em Setembro de 2008, os socialistas votaram contra a proposta do Bloco de Esquerda e dos Verdes sobre a mesma matéria. Argumentando que o PS não tinha legitimidade para decidir sobre um assunto que não tinha sido proposto no seu no programa de governo.